Eu também fui a Sevilha

Manuscrito propriedade de Francisca e Aquilino

Autor: Leli


Me dá um dia a tontada
De dizer-lhe às minhas filhas:
‘Não querem ir este ano
A ver a feira a Sevilha?’

E tive ainda a coragem
De dizer d’uma assentada:
?Pois eu vos pago a viagem
A pensão e a tourada.’

As casadas era sabido
Quando souberam aquilo
Com injecções dos maridos
Não me deixavam tranquilo.


E já me amolaram tanto
Que, com bastantes pesares
Vou e lhe digo ao Domingos:
‘Conta com sete lugares.’


Chega o dia da partida
Por grande desgraça minha
E lá vai o Xico Fialho
Com toda a sua gentinha.


Entre toda aquela gente
Tudo vai aborrecido
Apenas um vai contente
Que é o Domingos Florido.

Durante toda a viagem
Ninguém disse uma gracinha
Quando chegámos eu ia
Moído como uma sardinha.


Chegamos agora ao hotel
E com a calma necessária
Lhe perguntei ao gerente:
‘Quanto cuesta la diária?’


Me responde o sacana:
‘Ciento y cincuenta pesetas’
Rapazes, me deram ganas
De mandá-lo à punheta.


Mas por não fazer figura
Uma vez que ia a Sevilha
Tratei de engolir em seco
E lá entrei com a ‘pastilha’


Só me apetece dormir
Estou partido pelo meio
Mas diz meu genro Luís
‘Vamos a dar um passeio?’

Chegamos à rua e me vejo
Rodeado de espanholas
Bailando as sevilhanas
E tocando as castanholas.


Me fiquei tão entretido
Que mulheres! Que ‘salero’!
Que quando fui a olhar
Já não vi os companheiros.


 
 
Para onde se terão ido?
Me ponho então a olhar
E me diz uma tia daquelas:
‘Quiere usted venir al bar?’


‘Al bar! Sume-te de aqui!’
Estava nestas angusturas
Quando apareceu meu genro
Que andava à minha procura.


Quatro dias vão passados
Tenho a cabeça abrasada
Quatro dias de ‘jaleo’
Festa, barulho e tourada.


Agora vejo a Giralda
Uma torre muito alta
Mas sem largar a carteira
Que eu não me fio desta malta.


Cá vamos sempre furando
Sempre levando encontrões
Já tenho os pés chilhando
Com tantos os pisotões.


Me encontro Manuel Pulido
Que me diz se me gosta a festa
‘Ui rapaz, ando aturdido
Que gorda tem sido esta!’


Toda a culpa a têm tido
Meus genros os parvalhões
No que me têm metido
Ah!... Ladrões, ladrões, ladrões!